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São maçãs, senhor

por papinto, em 23.01.15

MIGUEL ESTEVES CARDOSO Público 23/01/2015 - 05:01

Aqui na freguesia de Colares há alguns agricultores teimosos que continuam a trabalhar com variedades deliciosas mas desconhecidas de maçãs.

No PÚBLICO de terça-feira, Samuel Silva contou a história de Raul Rodrigues (R.R.), professor da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima.

Passou sete anos à procura de variedades minhotas de maçã e encontrou 62 maçãs diferentes. Só no Minho. Uma chama-se camoesa-do-biribau; outra três-ao-prato... e faltam mais 60.

R.R., com a modéstia de que só os heróis são capazes, sentia "a necessidade de preservar o património genético frutícola [que é] um legado importante dos nossos antepassados".

É o que está a fazer. Imagine-se o prazer de poder visitar um pomar de macieiras em Ponte de Lima onde se pudesse observar as árvores ao longo do ano e, quando a época deixasse, poder prová-las cruas, cozidas ou refeitas como sidras.

Aqui na freguesia de Colares há alguns agricultores teimosos que continuam a trabalhar com variedades deliciosas mas desconhecidas de maçãs. Deve ser assim por toda a província da Estremadura. É bem possível que seja assim em todas as regiões portuguesas.

Das 62 variedades descobertas e mantidas por R.R. aposto que pelo menos metade também se encontrava fora do Minho. Algumas, porventura, ainda se encontram.

É urgente ler a reportagem inteira para se perceber a inteligência e importância do trabalho de R.R. Ele usa o método biológico de produção, fazendo com que "a protecção contra pragas e doenças seja mais fácil do que na produção industrial". E quem diz maçã diz qualquer planta, flor, fruta ou semente que nos dá prazer e faz bem.

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SAMUEL SILVA  Público 20/01/2015 - 11:45 Raúl Rodrigues, professor da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, coleccionou mais de 60 variedades regionais deste fruto nos últimos anos. E quer usar esse trabalho para mostrar que é possível recuperar uma produção praticamente perdida. As variedades recolhidas são depois estudadas, a nível morfológico e fenológicos

Será que o leitor conhece os nomes Porta-da-Loja, Três-ao-Prato, Camoesa-do-Biribau ou Sangue-de-boi? São todos designações de maçãs e têm também em comum o facto de serem espécies que podem ser encontradas no Minho. Estas variedades fazem parte de uma colecção mantida por Raúl Rodrigues, que andou a percorrer a região nos últimos anos, de modo a resgatar um património que estava quase perdido. Este professor da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima (ESAPL) acredita que é possível recuperar a sua produção. Até meados do século passado, nos pomares do Minho – como, de resto, nos de todo o país – cresciam maçãs de várias cores e feitios, fruto de séculos de produção e cruzamentos. Mas, desde então, “a cultura da macieira tem vindo a decrescer e com tendência para o desaparecimento”, alerta Raúl Rodrigues. Hoje, restam apenas alguns pequenos pomares de variedades comerciais e, em menor escala, da maçã Porta-da-loja, uma variedade regional que tem conseguido manter um nível de procura que lhe permite resistir. As restantes variedades foram, gradualmente, deixando de ser produzidas, desaparecendo praticamente dos terrenos. O processo deve-se sobretudo aos Planos de Fomento Frutícola Nacionais, lançados durante o Estado Novo. “Foram introduzidas novas variedades, mais produtivas e com melhor aceitação pelo mercado”, admite este professor, doutorado em Ciências Agrárias. Os pomares nacionais começaram, então, a ser usados para a produção das variedades de maçã mais em voga e que eram muito apreciadas a nível internacional. Eram as maçãs Royal Gala, Golden ou Reineta, que são as que ainda hoje encontramos com mais frequências nos pomares comerciais e nos mercados nacionais. Ciente disto, Raúl Rodrigues foi atrás das espécies quase desaparecidas no Minho, num processo que começou há sete anos. Desde então, conseguiu levar para os terrenos do campo experimental da Quinta do Convento, em Ponte de Lima, exemplares de 62 variedades de maçãs da região. O professor sentia a “necessidade de preservar o património genético frutícola” local. “É um legado importante dos nossos antepassados”, justifica. Nos últimos anos, Raúl Rodrigues tem multiplicado as suas “missões de recolha”, percorrendo as zonas rurais do Minho em busca de macieiras ainda desconhecidas. A cada novo achado, é recolhido material vegetal que, depois, é enxertado na colecção. As variedades recolhidas são depois estudadas, sendo registados os seus parâmetros morfológicos (tipo de folhas, flores, frutos, hábitos de frutificação e vegetação) e fenológicos (que nos permitem conhecer a época de abrolhamento, floração e maturação dos frutos), bem como a aptidão de cada tipo de maçã. Entre as maçãs do Minho existem as que se prestam ao consumo em fresco, mas também ao fabrico de sidra, confeitaria ou compotas, por exemplo. O professor da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima afirma ainda que o desaparecimento progressivo das maçãs do Minho é também consequência do desconhecimento destas variedades regionais. De resto, algumas das maçãs que integram esta colecção não são familiares ao público em geral nem eram, até há bem pouco tempo, conhecidas da comunidade científica. A colecção mantida por Raúl Rodrigues tem sido utilizada para actividades de investigação e também para aulas de campo, que o docente realiza com os seus alunos, e como matéria-prima para teses de licenciatura e mestrado de estudantes do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, do qual faz parte a ESAPL. O professor quer agora pôr esse conhecimento ao serviço da economia da região. Culturas sustentáveis Todas as 62 variedades de maçãs que fazem parte desta colecção podem ser encontradas no Minho, embora algumas não sejam exclusivas da região. Em todo o caso são variedades perfeitamente adaptadas ao clima e solos minhotos, com uma herança genética que as torna particularmente resilientes a determinadas pragas e maleitas. Além disso, a colecção tem a particularidade de estar a ser implementada no modo de produção biológico. Assim, a protecção contra pragas e doenças torna-se mais fácil de obter do que na produção industrial, uma vez que são criadas condições naturais para que inimigos naturais das pragas se desenvolvam, fazendo com que o equilíbrio natural ocorra na maioria dos casos. Para Raúl Rodrigues estas características podem ser uma mais-valia, no sentido de fazer ressurgir a produção de algumas destas maçãs na região. O modelo agrícola hoje predominante “é insustentável”, diz. “É altamente penalizador para o ambiente e limitador do acesso aos mercados por parte dos pequenos agricultores”, denuncia. O professor da ESAPL tem, por isso, advogado a promoção de uma fruticultura sustentável, assente em variedades autóctones e adaptadas à região em que são produzidas: “É uma das principais saídas para a conservação da biodiversidade regional e com potencial para o desenvolvimento económico”. Património imaterial As variedades regionais “podem ser exploradas economicamente”, defende Raúl Rodrigues. Para isso, acredita ser necessário divulgar estas maçãs, junto dos consumidores. “Isto é um património”, sublinha. “Esse conceito não se resume à arte de fazer talha, moldar o granito ou o ferro forjado. Existe um património vegetal, sobre o qual se foi construindo património imaterial, como as tradições que lhe estão associadas”. De resto, o trabalho deste professor do ensino superior não se resume à recolha e preservação das variedades de maçãs. Em cada saída de campo, Raúl Rodrigues faz contactos com as populações, para saber mais sobre as variedades, tanto ao nível do comportamento agronómico como ao nível das tradições que envolve. Várias destas variedades têm associadas tradições rurais, algumas das quais ainda se mantêm. A mais famosa é, provavelmente, a da maçã Porta-da-loja que, no Baixo Minho – em especial na vasta área que, na Idade Média, era dominada pelo mosteiro de Tibães, em Braga – era comida na noite de consoada. A maçã era assada no borralho, ou no forno, e servida em malga, regada com vinho verde tinto e polvilhada com açúcar. Outra tradição associada a esta variedade (essa já perdida) consistia em oferecer maçãs ao pároco da freguesia, por altura da Páscoa. A Porta-da-loja é colhida no Outono, mas mantinha-se fresca até à Primavera. “É uma tradição que atesta a elevada capacidade de conservação desta variedade sem recurso a câmaras frigoríficas”, sublinha o professor da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. O passo seguinte do trabalho de Raúl Rodrigues à volta das maçãs do Minho começa agora a ser dado. A ESAPL está a fazer a caracterização genético-molecular das variedades, recorrendo a marcadores moleculares. Este processo permite estudar o genoma de cada macieira e detectar as diferenças existentes ao nível do DNA. Além disso, os resultados destes testes vão traduzir-se num conhecimento mais rigoroso da genética das variedades e do nível de parentesco entre elas. Esta fase do estudo permite ainda fazer inferências sobre as relações entre o genótipo e o fenótipo das variedades, o que, em última análise, “permite aumentar a eficiência dos programas de melhoramento”, outro passo determinante para tornar mais atractiva a reintrodução da exploração comercial destas variedades, explica Raúl Rodrigues. Outros frutos Apesar das dificuldades com que se depara a iniciativa – a instalação e manutenção da colecção é dispendiosa e a falta de recursos, financeiros e humanos, é frequente, lamenta Raúl Rodrigues -, o professor da ESAPL já definiu a próxima fase desta missão auto-atribuída de resgate do património vegetal da região. O trabalho iniciado com as macieiras vai ser estendido a variedades regionais de outros frutos. Nos terrenos da Escola Superior Agrária, em Ponte de Lima, já existem cerca de uma dezena de exemplares de pêras, com destaque para a Pêra-de-Codorno, historicamente muito abundante na região de Basto. Também os citrinos vão merecer uma atenção especial, com recolha e caracterização de espécies como o Cidrão – uma espécie de limão de aparência mais tosca, usado para compota e bolos, que foi muito comum na região nos séculos XVII e XVIII – e como as laranjas de Amares e do Ermelo, no concelho de Arcos de Valdevez.

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Açores - O arquipélago comemora 150 anos de exportação do ananás para Inglaterra

Palestras, provas gastronómicas, um concurso de produtores e uma exposição vão assinalar, na freguesia da Fajã de Baixo, Ponta Delgada, entre 12 e 15 de Novembro, os 150 anos do início da exportação do ananás dos Açores para Inglaterra.

Café Portugal/Lusa; Foto: Alive Taste | quarta-feira, 5 de Novembro de 2014

 

 

Fonte da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, adiantou que durante quatro dias será levado a cabo um «vasto programa comemorativo» para assinalar a efeméride, numa localidade onde, apesar da pressão imobiliária dos últimos anos, a cultura do ananás ainda sobrevive.

 De acordo com registos históricos, foi precisamente a 12 de Novembro de 1864 que ocorreu o envio da primeira remessa do fruto rei, produzido na ilha de São Miguel, para a cidade de Londres, uma exportação que de significativa passou a residual ou inexistente com o passar dos anos.

Além da sessão solene de abertura no salão nobre da Junta de Freguesia e do lançamento de um selo comemorativo, decorrerá também a 12 de Novembro, a partir das 18h30, a inauguração de uma exposição, com a reprodução real de uma estufa, exibição de plantas, ananases, utensílios e vestuário utilizado pelos estufeiros.

A mesma fonte adiantou que o segundo dia será dedicado à vertente económica do ananás, estando prevista uma palestra, pelas 20h30 (21h30 em Lisboa), sobre o passado, presente e futuro, tendo como moderador o antigo presidente da junta de freguesia João Carlos Carreiro.

O programa comemorativo inclui, ainda, outra palestra sobre a vertente histórica do ananás, uma sessão de esclarecimento sobre nutrição, degustação de produtos, como licores e doces feitos com ananás, a presença de um chefe que irá preparar no local vários pratos e um concurso para premiar o melhor produtor de ananás.

Para o antigo autarca e estudioso do ananás João Carlos Macedo, que fará a palestra sobre a vertente histórica, mais do que falar em cultura do ananás deveria falar-se em economia do ananás, recordando que o fruto deu origem a empresas importantíssimas na região, como é o caso da Corretora, antigo Banco Micaelense, Carregadores Açorianos, entre outras.

O fruto rei nos Açores continua a ser cultivado de forma totalmente biológica em estufas, essencialmente nos concelhos de Ponta Delgada e Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, sendo que a produção anual é cada vez menor e atinge, actualmente, pouco mais de mil toneladas.

O presidente da Cooperativa Profrutos, Rui Pacheco, referiu, em Setembro, que a exportação do ananás dos Açores corresponde, presentemente, a «quantidades diminutas», sem precisar números.

Além do consumo interno, os principais mercados do ananás açoriano são o nacional e o designado «mercado da saudade», sobretudo Estados Unidos da América e Canadá, onde residem muitos emigrantes açorianos.

O ananás de São Miguel é originário da América do Sul e Central, tendo sido introduzido no arquipélago como planta ornamental em meados do século XIX, enquanto as primeiras explorações de caráter comercial surgiram em 1864.

A produção do ananás desde a toca até ao fruto pronto a colher leva cerca de dois anos.

No Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores (INOVA) estão em curso vários estudos para melhorar e reduzir custos de produção do fruto, que tem no abacaxi o seu principal rival comercial.

Entretanto está prevista para 2015 a conclusão do Centro de Interpretação do Ananás de São Miguel, que ficará localizado no edifício onde funcionou a Junta de Freguesia da Fajã de Baixo entre 1940 até 2014 e que antes tinha sido escola. O edifício construído foi construído no final dos anos 20 do século passado.

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"Nunca conseguiremos parar as importações. As pessoas hoje querem ter todo o tipo de fruta durante todo o ano", dizem os produtore

 

O país importou 33% da fruta que consumiu no período 2008/2009 a 2011/2012.

Não há produção suficiente de fruta para satisfazer o apetite dos portugueses, mas em 2011/2012 o grau de auto-suficiência foi o maior desde 2005/2006 e cresceu de 65,2% para 75,1%. De acordo com as Estatísticas Agrícolas de 2012, da responsabilidade do Instituto Nacional de Estatística, recentemente divulgadas, entre 2005 e 2012 a produção nacional conseguiu aumentar em 9,9 pontos percentuais a sua capacidade de abastecimento e atingiu, o ano passado, o melhor desempenho dos últimos sete anos.

"Não me surpreende nada. Ao contrário da actividade económica, a agricultura tem continuado a investir", diz Domingos dos Santos, presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutos e Hortícolas (FNOP), com 43 associados e que representa 70% do total das organizações e agrupamentos do sector hortofrutícola em Portugal. O sector, continua, tem aproveitado os fundos comunitários do Plano de Desenvolvimento Rural (Proder), o instrumento estratégico e financeiro de apoio ao desenvolvimento rural. E esta melhoria na capacidade de auto-suficiência é o resultado de investimentos feitos nos últimos anos.

"Temos aumentado a área de produção e a produtividade por hectare, com novas técnicas de produção, melhoria nos pomares e regas. Estes dados são fruto de um trabalho sustentado ao longo do tempo", continua, destacando a produção de pêssego, nectarina, pêras ou maçãs.

Nas Estatísticas Agrícolas, o INE sublinha que Portugal não é auto-suficiente em frutos e importou, em média, 33% do que consumiu entre 2008/2009 e 2011/2012. "A evolução da produção está muito dependente dos anos agrícolas", lê-se no documento.

Entre 2009 e 2010, a produção aumentou cerca de 12% devido ao crescimento dos chamados frutos frescos (excepto citrinos) que incluem desde ameixa a kiwi ou morangos. Na campanha seguinte, registou-se uma diminuição, mas em 2011/2012 aumentou 14,6%. Ainda assim, este acréscimo não foi suficiente para satisfazer as necessidades de consumo interno. Faltaram 25 pontos percentuais para conseguir a auto-suficiência.

"Nunca conseguiremos parar as importações. As pessoas hoje querem ter todo o tipo de fruta durante todo o ano. Nesta altura, por exemplo, já produzimos pouco morango", diz Domingos dos Santos. Ao mesmo tempo, à medida que aumenta a produção, também há crescimento nas exportações. "Há um volume muito aliciante na pêra-rocha (em média, são 100 mil toneladas exportadas)", continua, adiantando que estão a ser estudadas novas técnicas de conservação a frio para prolongar a validade desta fruta.

A crise tem mudado os padrões de consumo dos portugueses, que se deslocam mais vezes aos supermercados e compram menos quantidade de comida. Na fruta, Domingos dos Santos diz que não se nota uma diminuição das vendas, mas antes um comportamento mais racional e com menos desperdício. "Antes, o consumidor comprava dois quilos de pêras ou laranjas e deixava estragar três ou quatro peças em casa. Agora, vai mais vezes e compra menos de cada vez. Tudo o que compra é para consumir", resume.

Quanto ao grau de aprovisionamento de outros produtos agrícolas, há um caminho longo a percorrer. Na carne, os portugueses precisavam de 1113 mil toneladas para satisfazer a procura (2012) e, entre 2009 e 2012, a produção nacional atingiu apenas 73% dessa quantidade. Nos cereais, é conhecida a diminuta capacidade de produção, que apenas chega para 20,8% das necessidades. Na batata, apenas se produz 44% do consumo interno.

Contudo, há outros sectores onde o cenário é o oposto. No leite, Portugal foi excendentário em 2011 (105,3%, o último dado indicado pelo INE). No arroz em casca, a produção também ultrapassa as necessidades internas (103,4%) em 2012, mas no arroz branqueado fica nos 97% - cada português consome, em média, 16 quilos de arroz por ano. O vinho ultrapassa os 100% (104,2%).

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Investigadores portugueses comprovam benefícios da fruta nacional

2012-10-20 Ciência Hoje
Por Susana Lage

 

O que é nacional é bom. Parece um mero slogan mas, de facto, dois estudos portugueses desenvolvidos pelo Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET) e pelo Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) acabam de reforçar a qualidade da produção frutícola nacional e seus benefícios para a saúde.
«Bravo de Esmolfe – Uma maçã com benefícios cardiovasculares» e «Amoras silvestres portuguesas, uma aposta como alimentos funcionais para o cérebro» são dois projectos vencedores da Categoria Investigação e Desenvolvimento, na terceira edição do Nutrition Awards.
O estudo do IBET sobre a Bravo de Esmolfe sugere que a maçã é um fruto promissor a nível da saúde cardiovascular devido à composição em fibra e polifenóis os quais permitem diminuir os níveis de colesterol no sangue.

 

“Verificámos que esta variedade possui maior quantidade de compostos bioactivos. Uma Bravo de Esmolfe contém três vezes mais destes compostos do que a variedade Golden”, afirma Teresa Serra ao Ciência Hoje.

“O que fizemos, em colaboração com a Faculdade de Farmácia, foi dar diferentes variedades de maçãs a ratinhos e descobrir que só a Bravo de Esmolfe conseguiu reduzir os níveis de colesterol nestes animais”, continua a investigadora do IBET.

 

Os resultados obtidos indicaram que apenas a Bravo de Esmolfe foi capaz de reduzir significativamente todos os biomarcadores estudados, como os valores de triglicéridos, o colesterol total e LDL e as LDL oxidadas.

As conclusões aplicam-se aos ratinhos mas ao transpor as doses para humanos isso corresponde a comer duas a três maçãs Bravo de Esmolfe por dia. “Se uma pessoa comer diariamente a Bravo de Esmolfe pode ter benefícios a nível da saúde cardiovascular”, garante Teresa Serra.

A maçã Bravo de Esmolfe é cultivada em poucos locais na região da Beira Interior de Portugal. “É difícil encontrar esta maçã no supermercado porque tem uma pele muito fininha, basta um toque para oxidar e por isso é difícil de transportar. O que existe é muito caro, daí que tenhamos procurado valorizá-la através das propriedades benéficas que tem para a saúde”, refere a cientista.

“Esperamos que este nosso trabalho tenha um grande impacto a nível do cultivo deste fruto em Portugal, que os agricultores insistam no cultivo desta maçã para que possa chegar ao mercado nacional e internacional em maior quantidade e, consequentemente, influencie positivamente a economia do país”, conclui.

Mais-valia nutricional

Outro fruto português benéfico para a saúde, nomeadamente na prevenção das doenças do envelhecimento como as doenças neurodegenerativas, é a amora silvestre.

Por esse motivo, os cientistas do ITQB tentaram demonstrar o elevado valor nutricional e vários efeitos benéficos na memória e manutenção do estado cognitivo deteriorado com o envelhecimento que estes frutos têm.

Os resultados obtidos mostraram que “espécies de amoras silvestres, nativas de Portugal, em comparação com variedades comerciais representam uma mais-valia para um envelhecimento saudável, já que têm um efeito neuroprotector superior”, afirma Lucélia Tavares.

Segundo a investigadora do ITQB, “os compostos conhecidos por polifenóis, mesmo depois de submetidos a um processo que mimetiza a digestão alimentar, conseguem proteger neurónios de um stress oxidativo”. O stress oxidativo é um mecanismo comum a diversas neurodegenerações como Parkinson ou Alzheimer.


Verificou-se ainda que os mecanismos responsáveis por esta protecção vão muito para além da actividade antioxidante publicitada neste tipo de alimentos, que durante o processo digestivo é fortemente diminuída. Desta forma, este trabalho contribuiu também para desmistificar a ideia de que a actividade antioxidante dos alimentos é responsável pelos seus benefícios para a saúde.

O potencial nutricional das amoras silvestres identificado neste trabalho visa o aumento do seu consumo pela população portuguesa, bem como a disponibilização de novas espécies com reconhecidas vantagens nutricionais. Assim, os cientistas esperam que o consumidor possa a vir adquirir frutos/nutracêuticos com um elevado valor nutricional verificado cientificamente em modelos celulares, sabendo que este constitui uma mais-valia na prevenção de futuras doenças neurodegenerativas.

“Estas amoras para além da mais-valia nutricional poderão também constituir um produto diferenciado dos demais pequenos frutos, por serem espécies silvestres, que remetem para as memórias de infância e para o ambiente salutar do campo e com chancela 100 por cento portuguesa”, refere Lucélia Tavares.

Por último, estas espécies enquanto endémicas encontram-se bem adaptadas às condições edafo-climáticas portuguesas e ainda a subsistirem em condições de baixos inputs. A sua introdução em cultura permitirá a sua valorização e consequente protecção das espécies; e potencial adaptação a sistemas de cultivo com baixos inputs, um objectivo essencial numa agricultura sustentável de futuro, conclui.

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Públio 2011-07-25
Por Carlos Filipe

Deixou o emprego, agarrou-se à produção e pela Internet leva fruta a todo o país e à Galiza. Do produtor ao consumidor, em 24 horas

Doce, sumarenta, para a mesa ou para sumo, a laranja é importante fonte vitamínica e o sustento de milhares de produtores algarvios. Mas muitos estão a abandonar os pomares, demasiado pequenos para poderem ter voz na formação do preço, que dizem fixado pelas grandes cadeias de distribuição alimentar. Até que alguém lançou um grito de revolta e deixou de lhes vender uma laranja que seja. O seu exemplo poderá contagiar a comunidade.



José Mendonça, de 46 anos, reside na Luz, freguesia do concelho de Tavira, e ali trabalha os sete hectares de propriedade familiar. Decidiu voltar a estudar e prepara-se para concluir Agronomia na Universidade do Algarve. Atrás de si tem 20 anos de experiência nas áreas do marketing e vendas, também feita numa importante cadeia de distribuição (de gelados). Negociou a saída, porque a empresa se preparava para substituir os mais antigos por colaboradores mais jovens. E atirou-se às laranjas.

Os dois turnos de trabalho - um agrícola, outro académico - não lhe tiraram a força para se agarrar, à noite, a mais uma ferramenta, tecnológica, e fazer passar a palavra pela Internet a todo o país. Foi assim que há um ano, quando começou - mas tal como agora - as suas laranjas, ainda na árvore, eram notícia na newsletter da sua marca (www.laranjadoalgarve.com). Deputados parlamentares algarvios agitaram os corredores de São Bento, pedindo que aquelas laranjas chegassem aos copos dos bares da assembleia.

"Isto começou pelos amigos, que passaram a mensagem aos seus amigos, e aqueles aos seus conhecimentos. Foi uma rede e atingi todo o país. Cheguei a Madrid e à Galiza e tenho contactos nas ilhas", explica José Mendonça.

Por que o fez? "O problema deste país não é produzir, que nós sabemos fazê-lo, o problema é comercializar, é vender. Os grandes grupos - Sonae, Jerónimo Martins, Auchan - abafaram tudo o que havia de retalho, as mercearias de bairro. Morreu tudo. São eles que ditam as regras. E nós temos que produzir como eles querem e ao preço a que querem", explica o produtor. E acrescenta: "Por isso é que se vê que a maior parte da produção de citrinos aqui no Algarve está abandonada. Nesta zona havia três ou quatro armazenistas de fruta a quem nós vendíamos, mas que já fecharam. Subsiste um, em Cacela, que se estruturou e aguentou, e trabalha para esses três grandes [grupos]. Os pequenos produtores, com os custos de produção que têm, não suportam os preços que lhes impõem."

O agricultor da Luz é demasiado pequeno para ser abordado por armazenistas e distribuidores, mas sabe como as coisas se processam: "Nós vendemos aos grandes armazenistas, que têm contratos com aqueles grupos. Negoceiam e entregam o produto à maneira e ao preço que eles querem. Ora, isto vai sufocando o pequeno produtor. Não há forma de aguentar. Percebo a engrenagem, sei como eles trabalham. E sei também que, quando chegamos aos supermercados, vemos lá laranja do Algarve, mas que foi apanhada há 15 dias e que foi banhada em químicos para se conservar. Fica mole."

Mãos à obra

Esta constatação fê-lo pensar como "dar a volta à situação e vender directamente ao consumidor final, rapidamente, com qualidade e a um preço justo, para o produtor e para o consumidor". A solução: "Parti para muita pesquisa e vi que este mecanismo já funcionava bem em Espanha e decidi experimentar. Está a correr bem, não me posso queixar. Tenho vendido a produção toda."

José Mendonça fala de 50 toneladas, produzidas por cerca de 3000 árvores. "Agora estou no fim. Mas começo com a laranja em Novembro, no estado óptimo de maturação. Não faço como os outros, que metem-na nas câmaras frigoríficas e depois levam com etileno e ceras."

A experiência tem corrido bem, mas a aprendizagem muito tem contribuído para esse sucesso. "A Internet e as newsletters são muito importantes. Gostaria eu que houvesse quem o fizesse com a cereja do Fundão, com a maçã de Alcobaça ou a pêra-rocha das Caldas, que deixei de comprar nos supermercados, por ser dura como pedra. Dantes, eu era miúdo, tinha cheiro e sabor", observa José Mendonça, salientando que na universidade tem aprendido bastante para melhorar a qualidade da sua produção. "Não utilizo herbicidas ou adubos químicos. A minha adubação é de composto orgânico. São as aparas das podas da própria árvore. O herbicida é uma das chagas da produção. Destruo as ervas por meios mecânicos, e esses restos ajudam a fertilizar a terra. Não uso químicos para combater as pragas, mas sim armadilhas para captura dos insectos. Reduzo os custos e produzo com mais qualidade."

Equilíbrio natural

Da teoria José Mendonça passou à prática. "A agricultura é um ecossistema aberto, em que os sistemas intensivos e o uso maciço de produtos químicos alteraram tudo. Tenho notado que desde que uso este sistema não há tantas pragas. Há insectos que combatem outros insectos. Mas, se usarmos os químicos, e matarmos a erva toda, os insectos não têm onde ir buscar o seu sustento e atacam as árvores. Se houver equilíbrio, poderei ter uma quebra de produção até dez por cento, mas compensa, pois não terei pragas."

Não há laranjas suas no Parlamento, porque não houve acordo no preço. É outro problema: o transporte. "Se São Bento fosse aqui à porta, conseguiria fazer o preço justo. Mas, infelizmente, a distribuição "expresso" dos meus produtos tornam-no mais caro. É outro problema - 50 por cento do custo final é para a distribuição."

O agricultor conta como se pode comer laranja do Algarve ao pequeno-almoço que foi colhida de véspera: "Apanho a laranja pela manhã e faço-a chegar, a todo ao país, no dia seguinte, e a Espanha. Contactei todas as empresas de transporte expresso, portuguesas e estrangeiras. Mas a maior parte delas não estavam disponíveis para transporte de produtos alimentares, outras não se interessaram." Os CTT interessaram-se e a Seur também. Aliás, a empresa espanhola foi mais competitiva, apoiou o projecto. "Vem cá a casa, todos os dias, buscar o produto. Todavia, um quilograma sai a 1,80 euros [numa caixa de dez quilos]. Mas se foram duas o preço reduz em dez por cento. O problema é o transporte. Eu sei que no supermercado se vendem a 50 cêntimos, mas não tem esta qualidade. Os clientes habituais sabem ver a diferença."

Passada a novidade, José Mendonça vai expedindo 15 caixas por dia, quando há um ano recebia pedidos para 20 caixas. E embora diga que não haverá mercado para todos, acredita que se outros conseguirem fazer o mesmo talvez o mercado mude.

Mas também alerta que - e acredita que os consumidores não o sabem - os espanhóis, com um ano mau de laranja, já que as cheias na Andaluzia prejudicaram muitos pomares, estão a atirar para Portugal muita fruta de má qualidade. "Nós mandamos a boa laranja para Espanha, e também se ignora em Portugal a verdadeira origem do produto. É que um selo de Portugal não significa mesmo que a fruta tenha sido produzida em Portugal. E nós temos a melhor laranja, seguramente, pois o clima algarvio não poderia ser melhor. Sem ser demasiado quente, é bem temperado para a fruta."

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