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A floresta, que ocupa mais de um terço do território de Portugal, é fonte de emprego, exportações, vendas, lazer, biodiversidade, sequestro de carbono, protecção do solo, regulação da qualidade da água e do ciclo hídrico. Mas a soma de decisões erradas trouxe como factura os incêndios, atiçados pelo desordenamento. Distribuição das áreas totais por espécie, em 2010 http://static.publico.pt/files/florestaemperigo/img/05_info01.jpgFONTE: MAMAOT; ICNF

 

Floresta, a mina de diamantes de Portugal Poucas coisas têm tanto valor em tão diversas frentes. A floresta tudo dá – gera riqueza, pincela paisagens únicas, alberga um sem-número de vidas, limpa os ares, purifica águas, protege o solo, dá emprego, deslumbra turistas e ainda enriquece a gastronomia. Dá resposta a cada um dos três pilares do desenvolvimento - economia, sociedade e ambiente. A sua evolução entrelaça-se com a de Portugal, nas suas estórias e na sua História. Como o faz no presente e promete no futuro. Portugal tem mais de um terço do seu território coberto com florestas e bosques. Este é um dos maiores e mais importantes recursos naturais do país e tem dado provas disso. Desde sempre. Do fogo, abrigo e alimentação com que protegia as gentes de outrora, à pasta de papel ou à cortiça que hoje alimentam uma fatia importante da economia nacional, a floresta deu o material que levou os portugueses a outras paragens ou que permitiu que a ferrovia assentasse carris pelo país fora. Peso das exportações das principais fileiras florestais nas exportações nacionais http://static.publico.pt/files/florestaemperigo/img/05_info02.jpgFONTE:

Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território

 

Em tempos remotos, eram os Quercus que imperavam. De seu nome comum, os carvalhos, os sobreiros e as azinheiras. Ancestrais são também os castanheiros, as cerejeiras-brava, os loureiros, os teixos, as bétulas, os salgueiros, os amieiros ou os freixos, entre muitos outros. A necessidade de terras aráveis e pastos deu a primeira machadada nessas florestas. Ao longo da História do país, a paisagem sofreu tremendas mudanças, ora porque se abriam clareiras para agricultura e pastagens, ora porque os recursos florestais eram necessários, como foi o caso da navegação ou das traves para os caminhos-de-ferro. No início do século XIX, a floresta já cobria apenas 10% do país. Nesse meio tempo, a floresta alimentou, tanto com as espécies que acolhia como com os seus frutos e bagas, iluminou, aqueceu, abrigou e deu rendimento às famílias. Hoje continua a fazê-lo, embora as protagonistas sejam outras. Uma há que resiste há séculos: o sobreiro, uma espécie de extraordinária generosidade. Nela assenta uma das mais importantes indústrias nacionais, a Amorim, mas o montado é muito mais que cortiça. É paisagem, é biodiversidade, é protecção do solo, é sumidouro de carbono, e mais, muito mais. Como contribuintes para um sector que representa quase 10% das exportações do país e que dá emprego a 1,8% da população activa, outras espécies recém-chegadas ao país alimentam duas das indústrias mais importantes no tecido empresarial português. A mais antiga destas novatas – que pode até nem ser desconhecida no país como referem alguns estudos arqueológicos – é o pinheiro-bravo, campeão das campanhas de florestação do século passado. No Norte e Centro do país acabou por dominar boa parte da paisagem, alimentando serrações, oferecendo a resina cujo uso acabou por cair em desuso e potenciando o aparecimento de uma empresa que hoje é das mais importantes do país – a Sonae Indústria (empresa do grupo que detém o PÚBLICO). Durante anos, liderou a tabela das espécies predominantes no país. Mas é uma espécie hoje em declínio, sobretudo devido aos incêndios que encontram na sua resina um combustível de excelência e na continuidade das plantações o pasto ideal para ganhar velocidade e força. Acabadinho de chegar ao primeiro lugar das árvores com maior presença em Portugal está o tão mal-afamado eucalipto, estrangeiro dos quatro costados e que ainda hoje é visto como uma maldição. Acusado de mil e uma tropelias, o seu maior defeito é o que os homens fazem dele. Ou mais concretamente, onde e como o plantam. Manchas contínuas em locais inapropriados é receita certa para o disparate. Tal como o foi no caso do pinheiro-bravo. Indiferente à terrível fama que carrega, o eucalipto é a base da empresa de capitais portugueses que mais exporta, a Portucel, que só por si assegura cerca de 3% do total de bens exportados e representa perto de 1% do PIB nacional. Silvicultura e indústrias florestais 

 

 

http://static.publico.pt/files/florestaemperigo/img/05_info04.jpgFONTE: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território

 

Mas se a floresta é de facto fundamental para três das maiores empresas nacionais, assim como outras nos mesmos sectores, a mais-valia económica da floresta não se reduz à equação papel-cortiça-madeira. Há todo um mundo diversificado que tem, como principal vantagem, a oferta de respostas para muitas comunidades que ainda persistem nos meios rurais. Alguns exemplos: o tão suculento porco preto depende da bolota da azinheira, o pinhão está em crescimento, a castanha também assim como o medronho. O mel, os cogumelos ou a caça são outras das oferendas das florestas nacionais. A floresta é também o território de excelência para o turismo, outra das mais produtivas indústrias nacionais. Das paisagens que mudam a cada curva nas serranias do Gerês ou de Montesinho à deslumbrante simplicidade do montado. A riqueza não se esgota aqui, nos empregos, nas exportações, nas vendas, no lazer. Aliás, só agora começa. Não é por acaso que Portugal tem uma das maiores percentagens de território classificado como excepcional a nível europeu. A biodiversidade que a Rede Natura encerra, grande parte inscrita em zonas florestais, é reconhecida como única. Peso da fileira florestal no emprego em percentagem, Março 2012 http://static.publico.pt/files/florestaemperigo/img/05_info05.jpgFONTE: Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território São aves, são plantas, são zonas excepcionais que transformam Portugal num país riquíssimo. A acrescer a já tão grande espólio, acresce o sequestro de carbono, a protecção do solo, a regulação da qualidade da água e do ciclo hídrico. Estamos longe de uma floresta dominada por Quercus, como era no passado. Já passámos pela quase desolação, assistimos às monoculturas e hoje vemos muitas das espécies ancestrais a recuperar terreno. Sofremos com a factura de decisões erradas, como atestam os fogos, naturais no nosso clima, mas agora mais atiçados pelo desordenamento. Já muito se errou, já muito se corrigiu e há ainda muito a aprender. Falamos de um terço do território de Portugal. Da nossa mina de diamantes. Uma floresta sempre em mutação A paisagem florestal nacional que conhecemos tem leves resquícios do que já foi. Para trás, muito para trás, ficou um cenário que hoje apenas visitamos nas ilhas. Depois foram os Quercus, que compuseram o que agora se designa como floresta autóctone. Mas, pela mão do homem, tudo mudou e hoje o passado convive com novos visitantes, uns mais desejados que outros, uns mais nefastos que outros. Eis algumas das espécies do país. No início, há uns 500 milhões de anos atrás, até onde a geologia consegue ajudar a reconstruir a história, algo semelhante a musgos cobria partes do que hoje é Portugal. “As primeiras árvores e as primeiras florestas datam do período geológico do Devónico (409 a 363 milhões de anos antes da actualidade”, explicam Carlos Aguiar e Bruno Pinto, em “Paleo-história e história antiga das florestas de Portugal Continental até à Idade Média”. Depois vieram florestas frondosas e vários grupos de fetos. Estes, assim como as coníferas, serviram de pasto aos dinossauros herbívoros durante o Mesozóico (245 a 65 milhões de anos atrás). Há 20 milhões de anos, era a Laurisilva que cobria grande parte do Península Ibérica. Típica de um clima subtropical húmido, resta hoje apenas uma floresta muito semelhante nos Açores e na Madeira, os dois arquipélagos da Macaronésia nacional. Antes desta, os registos fósseis dão conta de variadas espécies Eram florestas de espécies “de folhas grandes, largas, por norma inteiras (não recortadas), persistentes (duração superior a um ano), sem pelos, rijas, lisas e brilhantes”, descrevem os autores. Pertenciam à família das Lauráceas, como o loureiro, o vinhático, o til ou o barbuzano. Com a última glaciação, explica o botânico Jorge Paiva, da Universidade de Coimbra, o frio destruiu a Laurisilva, deixando no seu lugar um coberto semelhante à actual taiga que existe junto do círculo polar ártico. Até que os ventos começaram a soprar mais quentes e o clima mediterrânico abraçou o território, desencadeando o aparecimento “de um grande número de novas espécies de plantas, muitas das quais adaptadas ao fogo”, referem Carlos Aguiar e Bruno Pinto. Surgem as estevas ou os azambujeiros. Assim como os bosques de folha persistente de Querci, os matos altos, os estevais e plantas aromáticas de calcários. Estando parte do território também sob a influência do clima atlântico, a diversidade das plantas que se adaptam e conquistam novos locais enriquece-se. É o advento das fagáceas, isto é, carvalhos, faias ou castanheiros, acompanhados pelos amieiros, choupos, salgueiros, aveileiras, freixos ou ulmeiros, assim como abetos. Ou seja, começa a formar-se a floresta que agora conhecemos como autóctone, e que teve muitos avanços e recuos, estando hoje a recuperar algum terreno. Enquanto todas estas mudanças ocorriam, um novo habitante surge nestas paisagens, acompanhando, desde a última glaciação, a evolução desta nova floresta. Mais tarde, estes seriam conhecidos como lusitanos. “Os lusitanos eram um povo que vivia desta floresta que lhes fornecia caça, peixe, frutas, farinha de bolota para o pão (não conhecia o trigo), castanha (substituída pela batata após os Descobrimentos) e verduras (veiças). É disto testemunho, o que Estrabão refere ao descrever o povo que os fenícios encontraram (primeira idade do Ferro) neste extremo ocidental europeu (“...três quartas partes do ano alimentam-se sempre com bolotas secas, partidas e esmagadas, com as quais fazem um pão que se conserva muito tempo. Uma espécie de cerveja é a sua bebida ordinária...”). São também testemunho disto, os pães de castanha ou pão dos bosques, a “bola sovada” (falacha) e “pratos relíquias” à base de castanha, como o paparote ou caldulo que ainda se comem em algumas regiões beirãs, e, ainda, alguma “actividade social” baseada na castanha, como, os magustos, estando as brechas (apanha prévia, pela garotada) e os rebuscos (apanha das sobras pelos aldeões de fracos recursos) praticamente em desuso”, conta Jorge Paiva, no texto “A biodiversidade e a história da floresta portuguesa”. Zonas de predominância dos carvalhos http://static.publico.pt/files/florestaemperigo/img/05_info06.jpg Surge a agricultura e a pastorícia e a necessidade de terrenos começa a abrir clareiras na floresta. A grande machadada é dada na altura dos Descobrimentos, quando as necessidades de madeira despem os solos nacionais. Só em carvalhos, terão sido derrubados mais de cinco milhões. Até que a necessidade de reflorestar se torna imperiosa e D. Diniz é nesse esforço cabeça de cartaz. O pinheiro-bravo regressa em força a Portugal – já por aqui teria andado, mas com menor expressão – e desde aí alarga a sua área de implantação até ao clímax atingido no Estado Novo, altura em que se cria um dos maiores pinhais contínuos da Europa. O que alimentou um verdadeiro rastilho para o avanço das chamas que amiúde lavram pelo país, sobretudo desde que as populações deixaram de depender do pinhal e rumaram a outras paragens, procurando melhores condições de vida. A meio do século passado, emerge outra espécie: o eucalipto, vindo da Austrália e Tasmânia. O rendimento que gera ao produtor florestal tornou-o num investimento interessante que levou a que, face à ausência de regras orientadoras, crescesse onde devia e não devia, criando contínuos florestais que, se nada ou pouco geridos, criam um excelente pasto para os incêndios. Erros que o tempo e o conhecimento estão agora a tentar corrigir. Muitas outras espécies chegaram, viram e venceram. Uma entre estas é hoje sinónimo de praga. A acácia mimosa, que a ex-Junta Autónoma de Estradas plantou profusamente país fora, e que muitos colocaram nos seus terrenos como planta ornamental, é uma invasora infestante que obriga a fortes investimentos para erradicar, o que nem sempre é coroado de sucesso. Reproduzindo-se muito facilmente e em muito pouco tempo, formam áreas densamente povoadas que impedem o desenvolvimento da vegetação natural. A floresta portuguesa já muito evoluiu, regrediu, progrediu e transformou-se. Umas vezes conduzida pelas mudanças naturais, outras pela mão do homem. E como qualquer organismo vivo, continua nesse trajecto. Essencial à vida, fonte de riqueza, paleta de algumas das paisagens mais bonitas do país, eis a floresta portuguesa.

 

 

 

 

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Florestas

por papinto, em 19.10.12

Forests from Kurt Reinhart on Vimeo.

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Das florestas e do homem

por papinto, em 07.08.12

 

Yann Arthus-Bertrand was appointed by the United Nations to produce the official film for the International Year of Forests. 
Following the success of Home which was seen by 400 million people, the photographer began producing a short 7-minute film on forests made up of aerial images from Home and the Vu du Ciel television programmes.
This film will be shown during a plenary session of the Ninth Session of United Nations Forum on Forests (24 January - 4 February 2011) in New York. It will be available to all from February 2 -- for free -- so that it can be shown worldwide.

With the voice of EDWARD NORTON.

www.goodplanet.org/forets 

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Manifesto pela floresta contra a crise

por papinto, em 16.09.11

Apelamos à resolução das causas profundas e estruturais que estão na base da degradação da floresta portuguesa

 

Público, 2011.09.16


Para sair do ciclo vicioso da recessão, endividamento externo, empobrecimento e aumento do desemprego, a sociedade portuguesa tem de crescer economicamente e valorizar o trabalho, consumir menos produtos importados, criar riqueza transaccionável com base nos recursos nacionais, transformar esses produtos e exportá-los para mercados que valorizem a qualidade. Vários estudos têm destacado o potencial dos recursos endógenos, como o turismo, o património cultural, o mar, os recursos geológicos, a agricultura e a floresta. 

Em Portugal, os espaços silvestres ocupam 64% do território, dos quais mais de metade estão arborizados (38%). Esta riqueza que herdámos e que temos vindo a utilizar, com base na transformação e exportação dos seus produtos (12% das exportações nacionais), permite pagar o que importamos para nos alimentarmos; cria e mantém mais de 140.000 postos de trabalho directos, remunera muitos milhares de proprietários e contribui em 3% para o PIB nacional. 

A floresta é uma das nossas principais riquezas! Cria emprego e desenvolve o interior do país, qualifica e organiza a força de trabalho que fornece as fileiras industriais da cortiça, do papel, dos aglomerados, da serração e do mobiliário. Estas indústrias não são deslocalizáveis e exportam produtos com elevadíssima taxa de valor acrescentado nacional. O território florestal suporta uma parte da pecuária, produz caça e pesca, e é fonte de energia renovável, fixadora de carbono, promotora da melhoria do solo, é salvaguarda de biodiversidade, regula o regime hídrico e constitui paisagens para lazer, recreio e turismo. É um valor nacional avaliado em muitos milhares de milhões de euros. É também história, cultura, memória, silêncio, bem-estar e futuro. 

Neste momento de crise, pode a floresta ajudar o País a reerguer-se, criando riqueza e emprego e contribuir para a prosperidade dos nossos filhos? Os signatários deste manifesto defendem que sim. Contudo, é imperioso que, de forma persistente e consistente no espaço e no tempo, seja promovida e valorizada a gestão activa dos recursos florestais. A percepção do valor da floresta vem de longe e sublinha o facto de os principais grupos económicos portugueses terem a sua origem na floresta. Mas, nos últimos 30 anos, as alterações sociais e as dinâmicas nos territórios florestais e rurais sucederam-se a um ritmo que ultrapassou a capacidade de gestão existente (conhecimento, pessoas, instituições). Somente parece ter havido capacidade de reagir aos problemas, atacando não as suas causas, mas os sintomas e as consequências. Por exemplo, sabendo que o problema dos incêndios só se resolve com a gestão profissional da floresta, o país tem reiteradamente insistido numa estratégia de combate ao fogo; o risco de incêndio agrava-se, há depleção do valor actual e da expectativa de rendimentos futuros dos territórios florestais. 

O país, sendo pobre, não tem o direito de olhar de soslaio para a sua floresta, pondo em causa o seu futuro e a sua soberania. 

A aprovação por unanimidade na Assembleia da República da Lei de Bases da Floresta constituiu um marco histórico. Pese, embora, este consenso alargado entre todas as forças políticas, as medidas, os instrumentos e os recursos financeiros sucessivamente disponibilizados não têm tido as necessárias consequências práticas, como se demonstra pela degradação da qualidade e quantidade do material lenhoso (revelado pelos inventários nacionais), o abandono dos espaços florestais (incluindo os públicos), os impactes dos incêndios e o descontrolo das pragas e doenças. Dos inúmeros e bem financiados planos e programas, quase todos têm demonstrado uma incapacidade crónica em concretizar as justas expectativas de um país com uma das mais altas produtividades florestais da Europa. 

O que tem faltado? Na maior parte do território florestal, com excepção da agro-silvo-pastorícia do Sul, as iniciativas dispersam-se e fragmentam-se na pequenez da propriedade e no individualismo da nossa matriz cultural. Sem cortar este nó górdio e desenhar medidas que transformem a estrutura da propriedade, será impossível promover a eficiência económica dos dinheiros públicos e privados, cada vez mais escassos, e assegurar a competitividade das fileiras florestais. 

Isto implica a necessidade de conduzir com urgência uma reestruturação fundiária sob o primado do interesse nacional, respeitando a propriedade privada. Esta reestruturação fundiária é decisiva, uma vez que mais de 90% das terras florestais são detidas por privados. Assim, o tema decisivo e prioritário da política florestal é a capacidade de assegurar que a propriedade florestal seja adequadamente gerida. 

Tendo a floresta um papel estruturante, quer no plano territorial, quer económico, ambiental e social, a sua má gestão (ou ausência dela) é mais do que um desperdício: é uma irracionalidade civilizacional, que acrescenta risco a quem quer gerir bem, e obriga a comunidade nacional a despender somas brutais de recursos financeiros cada vez mais raros. 

Neste manifesto defendemos a necessidade insubstituível de uma reforma fiscal inteligente e coerente que penalize essas situações e que estimule a gestão activa e profissional do recurso terra, premiando quem faz e quem assegura a perpetuidade das receitas. Focados na resolução das causas do problema, os estímulos devem visar a mobilização dos proprietários através do apoio técnico e profissional para gestão e venda agregada dos seus produtos (reforçando a via associativa), o desbloqueamento das ZIF (Zonas de Intervenção Florestal) e a disponibilização dos recursos do Fundo Florestal Permanente para alavancar financeiramente as iniciativas de gestão dos proprietários. A via fiscal deve estimular o mercado da terra (venda ou renda). De tudo isto resultará também a atracção do investimento e a constituição de poupança. 

Em síntese, lança-se o repto à governança do país (Parlamento, Governo e autarquias), para que se dedique, directamente pelo desenho das políticas públicas, e indirectamente pela indução das práticas de gestão e de engenharia, à resolução das causas profundas e estruturais que estão na base da degradação da floresta portuguesa. O futuro de Portugal passa por aqui!

Alberto de Castro, prof. Faculdade de Economia e Gestão/U.Católica Porto. Presidente AG Centro Pinus; Álvaro Amaroautarca. Antigo secretário de Estado da Agricultura e deputado; Américo M. S. Carvalho Mendes, prof. Faculdade de Economia e Gestão/U. Católica Porto. Presidente direcção Ass. Florestal do Vale do Sousa; António Alberto Gonçalves Ferreira, eng. agrónomo. Empresário agrícola e produtor florestal; António Alberto Monteiro Alves, Prof. emérito do ISA. Antigo vice-reitor UTL.; António Loureiro (*), Presidente Unimadeiras. Director da Assoc. Florestal Baixo Vouga e da ANEFA - Assoc. Nac. Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente; Armando Carvalho, eng. florestal; Francisco Avillez, Prof. emérito ISA. Coordenador científico da Agroges; Francisco Carvalho Guerra, prof. catedrático jubilado Universidade do Porto. Antigo presidente CR Porto/Univ. Católica. Presidente Forestis - Associação Florestal de Portugal; João Ferreira do Amaral, Prof. catedrático do ISEG aposentado. Presidente da Associação para a Competitividade da Indústria da Fileira Florestal - AIFF; João M. A. Soares (*), Antigo director-geral das Florestas e secretário de Estado das Florestas; João Santos Pereira (*), prof. catedrático IS Agronomia. Membro CNADS; João Soveral, eng. florestal. Antigo vice-presidente do Instituto Florestal; Jorge Sampaio, Antigo Presidente da República;Lucílio Martins, eng. florestal. Aposentado da DG Florestas; Luís Braga da Cruz, eng. civil. Prof. convidado da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; L. Valente de Oliveira, prof. aposentado U. Porto. Antigo Presidente CCRNorte. Antigo ministro da Educação e das Obras P. e Planeamento e Admin. Território; Luísa Schmidt, prof.ª ICS/Univ. Lisboa. Membro CNADS; Maria do Loreto Monteiro, prof.ª coordenadora aposentada. Presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais;Pedro Bingre, prof. Instituto Politécnico de Coimbra; Tiago Oliveira (*), mestre em Gestão de Recursos Naturais; Victor Louro (*), eng. florestal. Aposentado da DG Florestas. Antigo secretário de Estado da Estruturação Agrária e deputado. Os nomes assinalados com (*) correspondem ao grupo dinamizador da iniciativa

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Públioco 20110612  Francisco Castro Rego

O impacto dos incêndios florestais no ano de 2010 foi de novo particularmente destruidor nalgumas manchas florestais


Depois dos anos terríveis de 2003 e 2005 e de anos mais favoráveis a partir de 2006, o impacto dos incêndios florestais no ano de 2010 foi de novo particularmente destruidor nalgumas manchas florestais públicas, relevantes pela sua importância económica, social, paisagística ou ambiental, de muitos concelhos dos distritos do Norte e do Interior Centro do país. Em muitas destas áreas perdemos a capacidade da floresta se reconstituir naturalmente e a oportunidade de aproveitar as condições criadas pela falsa "pesada herança do pinhal bravo" para a sua reconversão por espécies mais interessantes do ponto de vista ambiental e de gestão do risco de incêndio.

Em 2010, foram já ultrapassadas grandes metas do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, destacando-se os 25 incêndios com mais de 1.000 ha cada, contra um objectivo de zero, muitos dos quais em áreas "geridas" pelo Estado. No entanto, a imagem que se pretendeu passar, no balanço da campanha de incêndios de 2010, foi de que a culpa foi da meteorologia, o que desde logo desresponsabiliza toda a sociedade e a conclusão foi que poderia ter sido ainda pior!

Continuamos focalizados sobre os números simples do custo absoluto ou sobre o número de meios disponíveis, sem nos preocuparmos com os verdadeiros resultados de eficiência. Seria de esperar que os acontecimentos de 2010 provocassem uma preocupação acrescida por parte da estrutura pública responsável simultaneamente pela prevenção estrutural contra incêndios florestais e pela gestão de parte significativa das nossas florestas públicas, a Autoridade Florestal Nacional.

No entanto, aquilo que tem vindo a acontecer consiste essencialmente no oposto. É alarmante a actual falta de orientação estratégica na Defesa da Floresta Contra Incêndios, parecendo existir uma enorme vontade de substituição de objectivos e iniciativas sustentadas a médio e longo prazo, baseadas no conhecimento, responsabilização e profissionalização, pelo empirismo e a publicitação de acções isoladas, num jogo de faz-de-conta que vai entretendo a opinião pública.

As posições tomadas consistem essencialmente na negação do processo evolutivo e participativo que vinha a ser implementado por uma estrutura da própria organização, a Direcção Nacional para a Defesa da Floresta (DF), desrespeitando alguns técnicos excelentes desta estrutura que, apesar de tudo, se têm mantido empenhados em tentar minimizar os estragos. Refira-se que muita desta evolução foi conseguida com a colaboração técnica e operacional do projecto europeu Fire Paradox (2006-2010), em que contribuíram especialistas e operacionais de vários países, de reconhecido mérito internacional.

Este processo de retrocesso na AFN, iniciado em 2010, teve já impactos muito negativos em várias iniciativas e actividades, nomeadamente:

- Pelo cancelamento do projecto do Grupo de Especialistas de Fogo Controlado (GEFoCo), cujo trabalho desenvolvido, entre 2007 e 2010, permitiu a aplicação desta técnica em cerca de 3.500 hectares, que contribuí- ram para a contenção de mais de 50 incêndios florestais nos últimos 3 anos, protegendo importantes manchas florestais públicas. Estas acções contribuíram ainda para colocar novamente Portugal como um dos países da Europa com maior e melhor utilização do fogo controlado para a Defesa da Floresta Contra Incêndios, de que são prova os inúmeros convites para apresentação da nossa experiência além-fronteiras.

- Pela tentativa de acabar com o Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF), a única estrutura técnico-operacional dedicada exclusivamente à prevenção e ao combate a incêndios florestais, cujos requisitos de formação, capacitação, dedicação e independência serão considerados exagerados e desnecessários pelos actuais responsáveis máximos da AFN. Estas equipas colaboraram no combate, nos últimos 5 anos, a mais de 300 grandes incêndios, intervindo quando estes atingem grandes proporções ou ameaçam áreas florestais relevantes. Os mesmos dirigentes têm vindo a desenvolver um processo, pleno de episódios rocambolescos, para suprimir estas equipas ou para a substituição destes profissionais por qualquer figurante que queira vestir o equipamento.

- Pela tentativa de suspender a actual regulamentação sobre o uso do fogo técnico (uso do fogo na prevenção e no combate a incêndios florestais), uma das mais avançadas da Europa, que define as condições da formação e da utilização do fogo, através nomeadamente da responsabilização dos utilizadores. Esta questão é particularmente delicada num país em que muitos dos utilizadores ad hoc do fogo no combate (vulgo contra fogo) pretendem o anonimato de forma a nunca serem associados aos impactos negativos (e muitas vezes perigosos) da má utilização desta técnica poderosíssima mas extremamente exigente.

- Pela paragem do processo de enquadramento e facilitação da realização das queimadas para a pastorícia, em períodos de baixo risco de incêndio. O objectivo principal consistia na criação de condições para retirar ao máximo esta causa de incêndios do período crítico e cujos resultados frequentemente são negativos para os próprios causadores.

- Pela não-sequência às propostas feitas para implementação de um necessário Plano Nacional de Uso do Fogo.

E, para corolário deste retrocesso, em vez de se prosseguir o investimento em conhecimento, estratégia e antecipação, a AFN resolve transferir 2 milhões de euros do Fundo Florestal Permanente, destinados à prevenção, para a contratação de meios aéreos para o combate.

Esperemos, mais uma vez, que a meteorologia ajude, de forma a podermos ainda manter as poucas manchas florestais emblemáticas que restam no Centro e no Norte deste país, cuja vocação principal, segundo concluía um famoso economista num aprofundado estudo levado a cabo nos anos 80, era o sector florestal. Só não se entende como pode um sector tão promissor ser abandonado a uma tão grande falta de responsabilidade e de estratégia, que levou a que a entidade pública responsável máxima pelo sector florestal tivesse conhecido, entre 2009 e 2010, três presidências e duas secretarias de Estado e respectivos adjuntos. É mais que tempo de pedirmos responsabilidade e avaliação de impacto das decisões (ou da sua falta) aos nossos dirigentes máximos públicos.

Parece, infelizmente, que as lições aprendidas com os terríveis incêndios florestais de 2003 e 2005 (que percorreram 1/4 dos nossos espaços florestais) estão a ser agora esquecidas e que o esforço e investimento feitos na organização, no conhecimento e na utilização do fogo (na prevenção e no combate), que tão bons resultados proporcionaram, estejam agora a ser abandonados. Seria previdente e urgente encararmos esta realidade e agirmos racionalmente, com a consciência de que existem hoje condições de acumulação, continuidade e características de combustíveis que podem originar incêndios piores do que aqueles que o país conheceu em 2003.

Ainda estamos a tempo de corrigir o processo! Professor do Instituto Superior de Agronomia, ex-director-geral dos Recursos Florestais; coordenador do Grupo de Análise e Uso do Fogo da Autoridade Florestal Nacional

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