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ARMANDO SEVINATE PINTO Público 20/07/2014 Quando somos novos, muitas das nossas convicções são experimentais. À medida que envelhecemos e a vida nos vai dando novas informações e proporcionando novas experiências, algumas dessas convicções vão-se esfumando enquanto outras se fortalecem. Isso acontece em todas as dimensões da nossa condição humana, incluindo nas mais ligadas à nossa actividade profissional. No meu caso, não enumerarei as que deixei pelo caminho, ou as que acrescentei às da minha juventude, limito-me a mencionar uma que fortaleci ao longo do tempo, ligada à minha profissão de agrónomo (espero que tenha sido por sabedoria e não por casmurrice, o que também acontece com a idade). De facto, estou cada vez mais convencido que os dois pilares sobre os quais tem que assentar o desenvolvimento sustentável da nossa agricultura, são o conhecimento e o investimento produtivo. Sobre a importância do conhecimento revelarei noutra ocasião o meu pensamento. Hoje referir-me-ei apenas ao investimento e ao seu financiamento, ainda que de uma forma resumida, compatível com o espaço de que disponho. Malgrado os nossos fracos recursos naturais os agricultores portugueses estão hoje a concorrer directamente, em mercado aberto, quer na União Europeia, quer fora dela, por via da globalização, da qual não nos podemos escapar. Na disputa dos mercados, inclusivamente do nosso próprio mercado interno, as exigências são enormes. Exigências em novas técnicas, novos equipamentos e novos factores de produção, que não estão ao alcance de agricultores descapitalizados e sem condições de acesso aos investimentos produtivos, desde que para isso não tenham apoio público. Apesar dos nossos handicaps, naturais e estruturais, o que tem feito com que os nossos produtores e a agro-indústria se tenham aguentado nas últimas décadas sem desaparecer e até, em muitos casos, se tenham desenvolvido e prosperado, tem sido o apoio público aos investimentos, fortemente baseado nos apoios estruturais comunitários, dos quais temos vindo amplamente a beneficiar. Sem contar com o programa de apoio pré-adesão, nem com os programa estruturais de apoio até 1994, incluindo o PEDAP, que foram de uma grande importância para Portugal, teremos recebido nos últimos 20 anos mais de 7000 milhões de Euros da UE, a que se adicionaram cerca de 1660 milhões do orçamento nacional, tendo beneficiado 160000 projectos de investimento maioritariamente privados e também maioritariamente orientados para investimentos directamente produtivos, que terão potenciado mais de 14500 milhões de Euros de investimento agrícola, florestal e agro-industrial. É sobre o último programa, do último Quadro Comunitário de Apoio (2007/2013), a cuja componente agrícola, florestal e agro-industrial, foi dado o nome de PRODER, que quero fazer alguns comentários, sem querer fazer difíceis comparações sobre as performances alcançadas, valores e projectos financiados, que me parecem até ser inferiores a anteriores programas de apoio. Fruto da falta de visão e de experiência, associado a um comportamento deploravelmente autista de um ministro, cujo nome já esqueci, e da incapacidade de um grupo técnico que o assessorou, tendo por base conceitos teóricos sem adesão à realidade, foi concebido um programa de apoio à agricultura, não só profundamente atrasado no tempo, como completamente desadaptado às nossas necessidades. A consequência foi mais do que desastrosa e chegou a admitir-se que se iriam desperdiçar milhões de Euros de apoio europeu. Desde finais de 2005 altura em que o mesmo responsável suspendeu as ajudas ao investimento do programa anterior, que deveria durar até 2007 - até finais de 2009 (quatro anos!!), por falta de enquadramento regulamentar, praticamente só investiram na agricultura os que gostam de arriscar e as grandes empresas, para as quais as ajudas públicas eram interessantes mas não indispensáveis. As vítimas foram os agricultores em geral, que passaram alguns dos anos mais negros das últimas décadas. Vítimas também foram os funcionários do Ministério da Agricultura que, sem culpa, fizeram o que puderam no âmbito de um programa e de um funcionamento que não tinha ponta por onde se lhe pegasse. Saneado o Ministro e exonerada a equipa dirigente da Autoridade de Gestão do PRODER, substituída em fins de Novembro de 2009, por gente competente e esforçada, alterados que foram os mecanismos e os procedimentos, incluindo a consideração pelos agricultores, que se tinha perdido durante anos, foi possível potenciar e acompanhar, com apoio financeiro, a dinâmica própria e muito positiva da agricultura, que muitos insistem em não ver, ou em fazer o possível por não ver. O PRODER, ainda que enfrentando um início desastroso, acabou por se reerguer e ser bem gerido pela nova equipa (toda a gente o reconhece) e bem acompanhado pelos pagamentos respectivos, a cargo do IFAP, cuja melhoria na sua regularização e previsibilidade, indispensável à boa gestão das explorações, também é notória. Entretanto, o PRODER, que ainda há poucos dias celebrava, com ênfase política, um período de transição sem hiatos para o novo Programa que se iniciará previsivelmente em finais deste ano, terminou abruptamente a recepção de projectos, invocando o facto de ter recebido um volume excessivo de candidaturas ao longo dos últimos meses (os projectos recebidos até à suspensão serão analisados segundo as ainda actuais regras, mas serão pagos com o dinheiro do próximo programa). O que se torna menos aceitável neste processo não é a suspensão propriamente dita mas sim o facto de, ainda há menos de um mês, se ouvirem auto-elogios pelo regime de transição que pela primeira vez iria acabar com os hiatos. De qualquer modo, desejando as maiores felicidades à nova Presidente da Autoridade de Gestão do novo PRODER que terá outro nome, fazendo jus ao vício dos políticos continuarem a adorar mudar nomes não posso deixar de felicitar todos quantos participaram, a todos os títulos, no programa que agora termina, pelo que fizeram e pelo generalizado aplauso que o seu trabalho suscitou.
AGRICULTURA | |
Agroportal, 2011-07-08 | A. Sevinate Pinto |
A agricultura (sector agrário) começa a ocupar espaço crítico na comunicação social. A sua importância é agora sublinhada por todas as forças políticas e por um número cada vez maior de individualidades que reduzem a uma minoria aqueles que continuam a não querer compreender a multiplicidade das valias públicas e a natureza específica desta actividade. É a esses, aos quais, em muitos casos, reconheço grande inteligência e brilhantismo intelectual, mas também a casmurrice que os leva a considerar de forma cega os princípios clássicos da ciência económica, não identificando diferenças entre a actividade agrícola e qualquer outra actividade, que quero fazer hoje algumas perguntas. A primeira, tem a ver com a complexidade das políticas públicas dirigidas ao sector, as quais, ainda há dias, ouvi um influente comentador, reduzir a uma mera distribuição de subsídios. Se calhar injustificados, terá pensado sem o dizer. Será que alguém conhece algum outro sector económico com maior multiplicidade de unidades produtivas, com maior variedade estrutural e/ou dimensão económica, com maior dificuldade técnico/económica, com maior exigência e responsabilidade ambiental e/ou qualitativa e em que cerca de metade dos produtores tem mais de 65 anos de idade e rendimento médio inferior a 40% do rendimento médio do resto da economia? Se conhecerem, digam, porque eu também gostava de conhecer. A segunda pergunta que gostaria de lhes fazer é se conhecem algum sector que viva num enquadramento tão instável como o da agricultura: é a PAC que se altera, às vezes radicalmente, de 5 em 5 anos, em contraste e em conflito completo com os ciclos produtivos muito mais longos de uma grande parte das actividades agrícolas e florestais; é a politica nacional cuja margem, por mais pequena que seja, sofre permanentes alterações; é a volatilidade dos preços dos produtos agrícolas que variam brutalmente de ano para ano, estilhaçando todo e qualquer planeamento, por mais prudente que ele seja; é a volatilidade dos custos dos factores de produção, frequentemente em contra ciclo com os preços dos produtos. Se conhecerem, digam, porque eu também gostava de conhecer. A terceira e última pergunta que lhes queria fazer é se conhecem algum sector económico em que aconteça com tanta frequência e com tanta intensidade, as catástrofes naturais e os fenómenos imprevisíveis, dificilmente seguráveis, tais como: a BSE, a gripe aviária e tantas outras doenças animais que regularmente atingem os efectivos pecuários e arruínam os agricultores; os incêndios florestais que nos roubam milhares de hectares todos os anos e as secas frequentes que "queimam" pastagens, searas e sonhos aos agricultores; as intempéries de há dois anos que arrasaram uma grande parte das estufas do Oeste, da chamada "agricultura protegida"! o nemátodo (importado) do pinheiro que ameaça milhares de hectares desta importante espécie florestal; as chuvas intensas e imprevisíveis que nas últimas semanas destruíram centenas de hectares já plantados com tomate para indústria e/ou de milho, nos vales do Tejo e do Sorraia e/ou os olivais e as vinhas na zona de Beja e de Pinhel; a estranha bactéria E.coli , de origem ainda desconhecida, que tem vindo a arruinar o mercado de hortícolas, principalmente em Espanha mas também em toda a Europa. Se conhecerem, façam o favor de dizer, porque eu também gostaria de conhecer. Armando Sevinate Pinto |
Público, 2011.04.03
A Prove, rede de produtores agrícolas locais, já tem 900 mil portugueses a consumir frutas e legumes todas as semanas, permitindo o contacto com o ambiente de produção
Ao final da tarde, as oito caixas que Ana Cordeiro enche com os legumes e frutas que colheu de manhã já terão entrado na bagageira dos carros de alguns dos 50 clientes que às sextas ou sábados a encontram no Espaço Fortuna Artes e Ofícios, em Palmela.
Ana é apenas uma das seis dezenas de pequenos produtores agrícolas que hoje estão associados ao projecto Prove (Promover e Vender). Uma rede de venda online de produtos hortícolas que os consumidores vão buscar aos próprios produtores a quem fazem a encomenda. O projecto movimenta hoje 6,5 toneladas de produtos hortícolas por semana, 900 consumidores de norte a sul e tem uma média de 8200 euros de vendas semanais.
A metodologia começou a ser testada em 2004 pela Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (Adrepes). Dois anos mais tarde, recebia o primeiro financiamento europeu e, alargado o modelo, desde há um ano, a outras associações de desenvolvimento local, foi reconhecida pela Rede Europeia de Desenvolvimento Rural como "projecto do mês" de Fevereiro.
Começou em Palmela e em Sesimbra, e da Península de Setúbal estendeu-se ao Vale do Sousa e a Montemor-o-Novo. Depois, juntaram -se produtores associados em Mafra, em Ponte de Lima, no Vale do Minho, no Baixo Tâmega, no Entre Douro e Vouga, no Ribatejo, no Algarve e na Área Metropolitana do Porto, conta José Diogo, técnico da Adrepes, enquanto vai a caminho da exploração agrícola de Vitória Almeida, de 71 anos, que, com Ana Cordeiro, de 34, forma o núcleo de produtores de Palmela.
Procurar a autonomia
Ana e Vitória entraram para o projecto apenas em Outubro. Trabalham em conjunto de forma quase autónoma, já sem precisarem que a associação monitorize o processo. Os consumidores fazem as encomendas através da Internet - é Ana quem trata desta parte. A partir daí, passam automaticamente a ser clientes da rede (podendo optar por encomendas de cabazes todas as semanas ou quinzenalmente) e a responsabilidade das duas é preparar caixas com produtos frescos e, de preferência, diferentes de sete em sete dias.
Para Vitória Almeida, esta sexta-feira começou às seis da manhã. Três horas mais tarde, na parte de trás da carrinha onde transporta os produtos já se vêem empilhadas dezenas de caixas de madeira com maçãs, batatas, alfaces e couves. Ali perto, rodeada de 17 hectares de vinha, e por entre árvores de fruto, estendem-se culturas de espinafre, tomate, alface, nabiça, couve e feijão-verde que darão para futuros cabazes. Com a entrada no Prove, conta Vitória Almeida, teve de aumentar a produção de hortícolas. Só na estufa que montou para alfaces, tem 300 pés, ainda rasteiros, que "dentro de um mês e pouco estão prontos para colher."
O programa não é apenas uma ajuda no bolso dos produtores agrícolas - o rendimento mensal médio do que ganham ronda 560 euros, que resultam directamente do que vendem. Podem também receber formação dada pelas associações locais: como abordar os consumidores, "a grande lacuna" detectada por José Diogo quando disseminou o Prove, e como ordenar a exploração.
Aquilo de que beneficiam pelo contacto com os consumidores é também um motor de desenvolvimento do projecto. "Há alguns que sugerem o que plantar", explica Vitória Almeida, que toda a vida viveu da terra. O conceito é aproximar os clientes do produtor. E o perfil está bem definido: famílias urbanas, de agregados entre três e quatro pessoas, sobretudo quadros médios e superiores, sublinha José Diogo.
Antes de tudo, o objectivo do programa é tornar viável o negócio a agricultores com menos capacidade de entrada nos grandes mercados de revenda. Ajudar, no fundo, aqueles que produzem e não vendem e colocá-los numa situação "em que são donos de um negócio que começa na produção e acaba no contacto directo com o consumidor", salienta.
Foi o caso de Ana Cordeiro, engenheira agrónoma que há dois anos ficara desempregada no Alentejo e que hoje não pensa sair de Palmela, terra onde nasceu. Os produtores "têm um apoio inicial por parte dos técnicos, mas o que se pretende é que, ao final de um tempo, eles sejam completamente autónomos", acrescenta José Diogo. Já passaram essa fase, Vitória e Ana. As duas sozinhas decidem que produtos incluir, acordam que quantidades cada uma traz para o cabaz, montam-no em conjunto e o valor das receitas é dividido entre elas.
Ao final da manhã desta sexta-feira, dia de entrega de cabazes, Ana Cordeiro prepara as encomendas da tarde no Espaço Fortuna, sede da Adrepes. Passa as mãos pelas fichas dos clientes, verifica que todos querem batatas e pega em sacos de plástico já preparados com a quantidade certa. Espalha-os no fundo das caixas e, a seguir, vêm as cenouras e as cebolas, para completar a base da semana. A abóbora vai ser hoje substituída por nabo. Por cima, laranjas e maçãs. No topo, as verduras. E, para colorir o arranjo, uma caixa de morangos maduros e limões.
O cabaz está completo: uma caixa cheia, 11 produtos, dez euros. "É o valor justo para produtos frescos e que são relativamente cuidados", atalha Ana Cordeiro. "Justo e com pagamento imediato", completa José Diogo. Do lado do consumidor, este tem um controlo "muito maior sobre aquilo que come".
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An aerial view of New Mexico farmland. Photo by Flickr user laureskew. | |
The future of water supplies in the Southwest – Arizona, California, Nevada, New Mexico, and Utah – has been under close scrutiny by scientists, economists and policymakers. Already, the amount of water available each year from rain and snowfall is less than what is being used by farmers and homeowners in these states, with the deficit made up by pumping groundwater from underground sources.
Rising temperatures in future – a result of climate change – are predicted to put further stress on water reserves. As a new report, “The Last Drop: Climate Change and the Southwest Water Crisis,” by economists Frank Ackerman and Elizabeth Stanton from the Stockholm Environment Institute, bluntly states, “water demand in the Southwest will outstrip water supply in the near future.”
Water from the already strained Colorado River, which supplies 18 percent of the region’s water, and groundwater supplies, which account for 35 percent of water use, is projected to be unable to meet the needs of a growing population with increasing incomes in the next 100 years. Climate change exacerbates the problem. The researchers emphasize that “continuing the current trend in global greenhouse gas emissions will make the cost of the next century’s projected water shortage at least 25 percent higher.”
Ackerman and Stanton highlight that close to four-fifths of the Southwest’s water is used for agriculture. A fifth goes to homes and commercial businesses, while the electricity, mining and industrial sectors each use less than 1 percent.
Southwest states are responsible for 20 percent of agriculture’s share of the national GDP, with California making up 16.4 percent by itself. Even though agriculture drains nearly 80 percent of Southwestern water supplies, it makes up a small piece of the GDP pie, contributing just 1 percent of Southwest GDP. Overall, farming contributed 0.8 percent of U.S. GDP in 2005, according to the report.
Prioritizing Higher Value Crops Could Be Key
The economists suggest that cutting back on crops that don’t fetch enough value for the amount of water used to grow them is one way to help curb the growing demands for water. This, they write, would “have little impact on U.S. or world agricultural markets, but a big impact in balancing water use with water supply in the Southwest.”
Ackerman and Stanton ranked Southwestern crops based on their dollar value per acre-foot of water used to grow them. (An acre-foot of water is considered enough to meet the needs of two four-person families for a year).
Nursery and greenhouse products came out on top, earning $28,000 per acre-foot. Vegetables, fruits and nuts generally brought in sales above $1,000 per acre-foot. Dairy and cattle (with water for hay to feed them factored in) came in at $900 per acre-foot. However, there was a huge discrepancy between California, where dairy and cattle earn more than $1,200 per acre-foot, and Utah, where they earn less than $250 per acre-foot.
Cotton, wheat, corn, rice and other grains scored low, with values of under $500 per acre-foot.
Hay is somewhat of an outlier, since across the Southwest it fetches the lowest value per acre-foot of water used – $121 on average. But, as the researchers emphasize, it’s important since it’s grown chiefly to feed cattle and dairy animals.
Using data from the National Agricultural Statistics Service, Ackerman and Stanton calculate that hay saps 42 percent of the Southwest’s agricultural water, while dairy and cattle account for 31 percent of total agricultural sales in the region. This relationship differs by state.
In Utah 94 percent of agricultural water goes to hay growing, but cattle and dairy sales only bring in 45 percent of the state’s total agricultural sales.
In New Mexico the ratio is more evenly weighted. Seventy-six percent of the state’s agricultural water is funneled to hay growing, while dairy and cattle account for 74 percent of total agricultural sales.
“Hay is more complicated than the other crops. We’re not making any direct recommendation there,” said Stanton in a telephone interview.
However, Stanton said hay is usually not transported over long distances and tends to be sold through local markets, but looking at selling it more widely is something that could be considered. She also explained that there is room for research into more efficient uses of water in hay farming.
“This is an area where so much water is used in such dry areas that it seems like a priority area for government extension services and universities to get involved and say, ‘How can we grow this hay with less water?’” she said.
According to Ackerman and Stanton, “in most Southwest states, farming cotton, grains, oilseeds and dry beans and peas brings in less value per acre-foot of water than would the sale of the water itself.” In theory, this means some farmers would be better off selling water instead of using it to grow their crops, although in reality they seldom have the rights to do so.
While the cost of water varies for different users in different states, according to water rights, allocations and subsidies, the authors highlight that some municipalities pay $2,000 or even $3,000 per acre-foot to supply water to homes and businesses. In Utah utilities have paid up to almost $5,200 per acre-foot, according to the report.
The report also shows how different states exert different demands on water supplies. Utah, for instance, “uses more domestic water per capita than any state but Nevada per day.” New Mexico uses the least domestic water per capita in the Southwest, which means it ranks 16th in the country for domestic water usage. At the same time, New Mexico uses close to 90 percent of its water supply on agriculture.
The researchers suggest that “eliminating the lowest value-per-unit-water crops (excluding hay) would lower agricultural water use by 24 percent, while reducing farm sales by less than 5 percent.”
“We can’t say anything about the particular circumstances of particular farms, but the suggestion would be to switch from a lower value crop to a higher value crop,” said Stanton. “And these aren’t just crops that are lower value in terms of per-acre foot [of water used]. These are also lower value crops in general.”
In strictly financial terms, Ackerman and Stanton calculate that by 2050 increasing water shortages will cost the Southwest between $7 billion and $15 billion – about 0.3 to 0.6 percent of the region’s GDP for 2009. By 2100 projected costs hit between $9 billion and $23 billion.
“Adaptation,” they write, is “a bargain that the region cannot afford to ignore.”
Publico, 2011-01-10 Ana Rita Faria
Na última década, défice da balança alimentar cresceu 23,7 por cento. Só em Outubro, gastos com importações de cereais quase duplicaram
Temos de importar mais de 60 por cento da carne que consumimos, deixámos de ter produção de açúcar e só há pouco tempo começámos a plantar olival. E temos de importar praticamente tudo o que consumimos em matéria de cereais, até mesmo para alimentar o gado nacional.
Nos últimos dez anos, o défice da nossa balança comercial alimentar disparou 23,7 por cento. Os portugueses estão cada vez mais dependentes do estrangeiro para comer e, por isso, cada vez mais vulneráveis a uma escalada dos preços das matérias-primas alimentares como a que está a acontecer agora.
De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), os preços das matérias-primas alimentares nunca estiveram tão altos como agora. O índice da FAO, que reúne 55 produtos diferentes, atingiu em Dezembro o recorde histórico, depois de ter estado a subir durante seis meses consecutivos. O açúcar, os óleos e os lacticínios acumulam as maiores subidas desde 2009, mas os cereais e a carne também estão a aumentar.
O ministro da Agricultura, António Serrano, disse na semana passada ao Jornal de Negócios que esta nova crise pode ser uma oportunidade para Portugal, incentivando os produtores. Mas a verdade é que o país está mais vulnerável do que nunca a um choque de preços deste tipo, devido à elevada dependência do estrangeiro para se abastecer da maioria dos alimentos. Para já, a escalada dos preços ainda não se traduziu em subidas significativas dos preços finais - a inflação nos produtos alimentares rondava os 2,5 por cento em Novembro - mas já fez aumentar os custos na importação de alguns produtos. É o caso dos de cereais que, só em Outubro, dispararam 76,9 por cento, para os 71 milhões de euros.
Os gastos com compra de carne no exterior também subiram 1,4 por cento.
"Todos os factores de produção aumentaram de forma brutal, criando uma situação insustentável para muitas empresas da fileira agro-alimentar", revela Pedro Queiroz, director-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA).
Problemas climatéricos que afectaram as colheitas ou as produções na Rússia, na Argentina e na Austrália, aliados a um aumento da procura por parte de países como a China e a Índia, ajudam a explicar a subida dos preços das matérias-primas.
Aos custos elevados, junta-se, em Portugal, um "problema de soberania alimentar", decorrente "de anos e anos de uma política agrícola comum que nos fez desinvestir na produção", considera o director da FIPA.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o nosso défice comercial (saldo entre as exportações e as importações de alimentos) aumentou 23,7 por cento entre 1999 e 2009, totalizando 3,3 mil milhões de euros (ver infografia). Apesar de as exportações terem crescido mais de 100 por cento nesse período, as importações também subiram mais de 50 por cento e continuam a representar quase o dobro dos produtos que exportamos.
Ainda assim, o valor do défice face ao produto interno bruto diminuiu, embora não tanto quanto seria de esperar, passando de 2,3 por cento em 1999 para dois por cento em 2009. Em 2010 (pelo menos até Outubro), e também em 2009, houve até reduções ligeiras do défice alimentar, mas sobretudo devido à crise, que levou a uma retracção das importações, enquanto as exportações mantiveram o seu fôlego.
Impacto nos preços?
Para Maria Antónia Figueiredo, presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e Importações Agro-Alimentares (OMAIAA), a escalada das matérias-primas alimentares pode conduzir a um aumento dos preços finais para o consumidor, mas isso "vai depender dos agentes do mercado e da existência ou não de stocks suficientes".
Alguns sectores, como o da produção de pão e de carne, não tencionam repercutir nos preços finais o aumento dos custos com as matérias-primas (ver textos abaixo). O mesmo se passa com os grandes retalhistas. "Nos últimos anos, o sector da distribuição tem conseguido acomodar os aumentos das matérias-primas, comprando mais caro ao produtor e não repercutindo isso no consumidor, e é natural que continue a fazê-lo", afirma Luís Reis, presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição. O responsável considera que "o aumento da eficiência no sector torna pouco provável a subida dos preços este ano, ainda para mais num cenário em que se prevê uma queda do consumo privado.
Mas, enquanto Portugal ainda só receia um aumento dos preços, outros países já estão a pagar a factura. Moçambique foi o primeiro a dar sinais de alarme, quando, em Setembro de 2010, 13 pessoas foram mortas durante protestos contra o aumento de 30 por cento no preço do pão. Na semana passada, contestação tomou de assalto a Argélia, onde os preços do açúcar e do óleo dispararam.
O principal receio é que uma nova onda de agitação social atinja os países menos desenvolvidos como aconteceu durante a crise alimentar de 2007-2008. Nessa altura, um cocktail explosivo de más colheitas agrícolas, aumento da procura por parte dos países emergentes, maior produção de biocombustíveis, à mistura com a especulação nos mercados, provocou uma subida gigante nos preços das matérias-primas alimentares.
Quatro sectores sob a ameaça dos preços
O país deixou de produzir beterraba e depende em mais de 50% do exterior na carne e cereais. No leite a situação é melhor
Cereais
Importações: 75%
Valor do mercado: 888,9 milhões
Com a subida dos preços dos cereais, o sector da panificação tenta apertar o máximo possível os custos para não ter de aumentar o preço final.
De acordo com a Associação do Comércio e da Indústria da Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), o volume de negócios do sector caiu 35 por cento no ano passado. Este ano não deverá ser melhor.
"As matérias-primas vão continuar a aumentar e não há grande margem de manobra para fazer reflectir esse aumento nos preços finais, devido à retracção do consumo", considera Graça Calisto, secretária-geral da ACIP. A responsável admite mesmo a possibilidade de vir a haver problemas de abastecimento. Os preços do trigo e do milho estão 50 por cento mais altos do que há um ano.
A seca na Rússia (a maior dos últimos 50 anos) levou a uma quebra de produção em meados do ano passado, que acabou por desembocar numa decisão do Governo russo de limitar as exportações.
Mais recentemente, as inundações na Austrália abalaram o fornecimento de trigo aos mercados.
A.R.F.
Açúcar
Importações: 100% das matérias -primas para transformação
Valor do mercado: 312 milhões
Os portugueses ainda têm bem presente a falta de açúcar nos supermercados, na altura do Natal, por ruptura na refinação de açúcar e devido ao açambarcamento.
Neste momento, parece pouco provável que possa haver cortes no fornecimento de açúcar, mas a possibilidade do preço deste bem alimentar subir é grande.
A ruptura de abastecimento de açúcar no final de 2010 foi gerada, em parte, pelo atraso da Comissão Europeia em levantar um imposto aduaneiro que existe sobre a importação de cana.
Não se sabe até quando é que a Comissão mantém a suspensão desse imposto, criado para proteger a produção de açúcar de beterraba na União Europeia.
Neste momento, Portugal não tem produção a partir de beterraba, estando dependente da refinação da cana, mercadoria que continua a subir no mercado internacional.
A escalada de preços tem sido gerada por vários factores, entre os quais estão alterações climáticas.
O aumento do consumo na China e na Índia ajuda a pressionar os preços. Factores cambiais e a produção de biocombustível são factores que também influenciam o aumento do preço.
R.S.
Leite
Importações: no leite, o país é praticamente auto-suficiente
Valor do mercado: 1220 milhões
Quando tomamos um copo de leite ou barramos um pão com manteiga, a probabilidade de estarmos a utilizar produtos estrangeiros é muito pequena.
O famoso regime de quotas, por muitas falhas que encerre, e a dinâmica do sector cooperativo fazem com que Portugal não precise do estrangeiro nos dois principais produtos da área dos lacticínios - o leite em natureza e a manteiga, responsáveis por cerca de 60 por cento do mercado.
Encontramos leites e manteigas estrangeiras nas prateleiras dos supermercados por mera opção estratégica, não por real necessidade.
Já nos iogurtes e nos queijos, a situação é diferente, particularmente no primeiro item, onde as importações assumem um peso significativo.
Apesar da recente escalada dos preços mundiais dos alimentos, o custo dos produtos na prateleira não conheceu oscilações profundas. No caso do leite bebida, dados do Ministério da Agricultura mostram que o preço manteve-se praticamente estável ao longo de 2010, apesar de o preço que é pago ao produtor ter conhecido, no último semestre, um aumento que não está muito longe dos 10 por cento.
Como é que isto tem sido possível? O resultado traduz a fortíssima tensão existente entre a indústria que trata a matéria-prima e embala o leite e a grande distribuição, que tudo faz para manter o preço de um produto de largo consumo.
Para 2011, o quadro de estabilidade pode romper. Com a recente escalada de preços, que têm repercussões no custo das rações para os animais, a tendência será para aumentar o preço ao produtor e algum reflexo disso irá sentir-se nos consumidores.
J.M.R.
Carne
Importação: 60%
Valor do mercado: 1880 milhões
A escalada dos preços das matérias-primas afecta duplamente o sector da carne.
Além de prejudicar os importadores, afecta também os produtores nacionais, que vêem os seus custos de produção disparar devido à subida dos cereais, usados na alimentação dos animais.
O aumento da procura por parte da China é uma das principais causas do aumento de preços.
De acordo com a Associação Portuguesa de Grossistas, os preços não têm parado de subir, encarecendo as importações, que vêm sobretudo de Espanha, mas também de outros países europeus, do Brasil e da Argentina. A associação fala mesmo de alguns problemas de abastecimento, que estão a forçar algumas cadeias de supermercados, "regra geral mais exigentes na escolha de carne, a aceitar outras categorias, devido à escassez".
A carne de bovino é quase toda importada, enquanto na carne de aves e de porco, Portugal consegue satisfazer parte das necessidades. Já os produtores de carne viram os seus custos aumentar cerca de 30 por cento desde meados de 2010, devido à escalada dos preços dos cereais, que encarece as rações.
As fábricas de rações já aumentaram o preço em 25 euros por tonelada este mês. Mas um aumento dos preços finais está fora de questão.
A.R.F.