As preces dos agricultores alentejanos quando já se sentiam acossados, mais uma vez, por um ano de seca, tiveram acolhimento. A chuva que alagou e encharcou abundantemente os campos da região nos últimos dias de 2009 abre boas perspectivas para a pecuária e a agricultura. E afasta o receio de uma seca monumental, como a de 2005.
O problema da escassez subsiste nalguns perímetros, mas a abundante precipitação que marcou o fim do ano serviu pelo menos para fixar um novo recorde na albufeira de Alqueva. Às 10h00 de ontem, o nível de água atingiu a cota 150,17 metros acima do nível do mar, o que corresponde a 91 por cento da sua capacidade máxima. E continuava a encher. É o maior volume de água registado em Alqueva desde que as suas comportas foram encerradas a 8 de Março de 2002. Em apenas 10 dias (entre 21 e 31 de Dezembro) entraram na albufeira de Alqueva cerca de 700 milhões de metros cúbicos de água. Para se ter uma ideia do "dilúvio" que em poucos dias quase encheu a albufeira, no dia 21 de Dezembro entrava um caudal médio, vindo de Espanha, de seis metros cúbicos por segundo; dez dias depois, a afluência atingia os cerca de 600 metros cúbicos por segundo, um volume que se pode manter a níveis altos nos próximos dias. Castro e Brito, presidente da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo, diz em declarações ao PÚBLICO que a precipitação dos últimos dias "é muito bem-vinda" tanto para a reposição dos níveis de água nas barragens como para garantir novas pastagens, mas adverte que "as necessidades de água na região não se esgotam com estas chuvas", porque não estão assegurados os recursos hídricos necessários à sustentabilidade das culturas da Primavera e do Verão. A escassez faz-se sentir sobretudo nos perímetros de rega da bacia do Sado (Roxo, Odivelas, Campilhas e Monte da Rocha), onde a água presente nas barragens de apoio ao regadio continua a ser insuficiente para assegurar em pleno as culturas das próximas estações. Agricultores satisfeitos Mesmo assim, o agricultor Luís Peres de Sousa está convencido de que os níveis de precipitação já permitem aos produtores "acalentar alguma esperança". "Quem diria, há 15 dias, que íriamos ter níveis tão elevados de precipitação?", observa. Em Novembro último, muitos produtores temiam a repetição de cenários de seca idênticos ao da grande seca de 2005. Há cerca de um mês, também as autoridades espanholas chegaram a admitir uma "redução significativa nos recursos hídricos disponíveis". Quanto a Alqueva, a reserva armazenava, ontem de manhã, perto de 3900 milhões de metros cúbicos de água. Para atingir o enchimento pleno, têm de entrar mais 330 milhões de metros cúbicos. Caso isso acontecesse, seria atingida a almejada cota 152, o nível de pleno enchimento, que nunca foi alcançado desde que as comportas da grande barragem do Sul foram encerradas. À cota 152 correspondem 4150 milhões de metros cúbicos de água. No restante ano de 2009, o nível de armazenamento oscilou entre a cota máxima de 148,90 (3500 milhões de metros cúbicos), em Fevereiro de 2009, e a cota mínima de 147,58 (3221 milhões de metros cúbicos) registada no dia 21 de Dezembro. Com o volume de água que apresenta neste momento, Alqueva continua a superar a reserva existente nas 29 albufeiras instaladas nos afluentes do rio Guadiana em território espanhol. Enxurrada em ribeira seca No primeiro dia do presente Inverno, as 29 barragens espanholas retinham 2935 milhões de metros cúbicos. De então para cá receberam mais 610 milhões. Na província de Ciudad Real, onde nasce o Guadiana, algumas ribeiras que estiveram permanentemente secas durante os últimos 13 anos registaram enxurradas que provocaram cortes de estrada, devido a estes fenómenos meteorológicos inesperados. Na bacia do Guadiana, a afluência de caudais repõe as reservas em níveis razoáveis, mas a do Sado pouco tem beneficiado do Inverno chuvoso. Das 12 barragens desta bacia, só duas (com pequena capacidade) têm um caudal superior aos 80 por cento, enquanto oito têm menos de metade e duas (Roxo e Campilhas) continuam abaixo dos 20 por cento.