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Agro Portal, 2010.12.05
Os estrangeiros a trabalhar na apanha de fruta e hortícolas nos campos algarvios praticamente já superam os portugueses, disseram responsáveis de organizações de produtores locais, que admitem a dificuldade em recrutar trabalhadores nacionais.
A preferência por outras áreas como o turismo, comércio ou serviços, a «concorrência» do subsídio de desemprego e o facto de o trabalho no campo ser ainda considerado precário são alguns dos factores que poderão afastar os portugueses.
A dificuldade é tanta que já houve organizações de produtores a ir a Marrocos para recrutar trabalhadores, contudo, a obtenção dos vistos demorou tanto tempo que quando os marroquinos chegaram ao Algarve já a produção tinha ficado perdida.
A maioria dos estrangeiros a trabalhar nos campos algarvios, em permanência ou na época de campanha, são originários de países do Leste europeu como a Roménia, Ucrânia ou Bulgária, embora haja também marroquinos e até tailandeses.
o director regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Joaquim Castelão Rodrigues, confirma que existe dificuldade em contratar mão de obra nacional para o sector agrícola por muitas pessoas «se negarem» a trabalhar na área.
O presidente da Uniprofrutal, Eduardo Ângelo, estima que em dez pessoas necessárias para apanhar fruta apenas uma seja portuguesa, o que faz com que os estrangeiros representem já mais de metade do total nas explorações agrícolas algarvias.
Para o director geral do grupo Hubel, Humberto Teixeira, a maior concorrência não é a de outros sectores, mas sim o «subsídio de emprego por si só», já que a tentativa de recrutamento de pessoas inscritas nos centros de emprego sai quase sempre gorada.
O grupo tem como uma das suas áreas de negócio a produção e comercialização agrícola e, através da Madrefruta, congrega produtores que cultivam desde morangos, framboesas, pêssegos ou melancias a tomates, pepinos ou feijão verde.
Em entrevista, aquele responsável diz que mais de metade dos seleccionados se apresentam «com uma postura de desinteresse» e às vezes até ameaçam os potenciais empregadores, «pedindo que não os seleccionem».
«Não existe uma cultura de responsabilidade nos inscritos [no IEFP] que são seleccionados para o trabalho na agricultura», diz, lamentando que o sistema actualmente instituído fomente algumas «vantagens na condição de desempregado».
O mesmo problema acontece com os produtores da Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (Cacial), que se vêem obrigados a recorrer a estrangeiros para não perder as produções, diz Horácio Ferreira.
Segundo disse, os poucos portugueses que aceitam trabalhar na apanha da fruta são os que mais faltam ao trabalho, o que não acontece com os estrangeiros, havendo muitos que desistem dias depois do começo das campanhas.
«Se não fossem eles [os estrangeiros], nos dias de aperto não sei o que faríamos», desabafa, sublinhando que enquanto os nacionais faltam ou metem muitas vezes falsas baixas médicas, os estrangeiros até se oferecem para trabalho suplementar.
Fonte: Lusa