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Público, 20.12.2009 - 09h41
Produtores dizem que actividade enfrenta risco de sobrevivência
A campanha cerealífera de 2009 é para esquecer.
O volume de produção caiu cerca de 23 por cento face ao ano anterior, mas o valor final do produto colhido apresenta um recuo ainda mais significativo - a rondar os 40 por cento - fruto de uma quebra de 21,4 por cento no preço.
"É uma situação dramática, a que vivemos. O sector começa a estar em risco de sobrevivência", afirmou ao PÚBLICO Bernardo Albino, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cereais (Anpoc), numa reacção aos números avançados pelo Instituto Nacional de Estatística na primeira estimativa para as Contas Económicas da Agricultura de 2009.
Esta quebra na produção constitui uma ameaça, na medida em que pode desequilibrar ainda mais a balança agrícola portuguesa, que já depende a 75 por cento das importações de cereais. Bernardo Albino admite que há um certo movimento de correcção no sector, decorrente das boas campanhas anteriores que acumularam stocks e pressionaram os preços dos cereais em baixa. Mas acrescenta temer que se possa estar a entrar numa espiral de abandono que decorre da inexistência de uma estratégia nacional para o sector.
"Houve uma liberalização que põe em causa a rentabilidade das explorações e muitos produtores procuram outros caminhos", afirmou. A pressão no sentido do abandono dos cereais não é um problema estanque, pois parte substancial da produção destina-se à alimentação dos animais e um recuo ainda mais substancial das colheitas poderá obrigar a bovinicultura, por exemplo, a procurar refúgio nas rações, mais caras e menos aconselháveis no apuro da qualidade da carne.
O ano não foi terrível apenas para os produtores de cereais. Segundo o INE, a situação dos produtores de batata é também complicada. Neste caso, a produção em tonelagem até aumentou, mas o valor final da colheita caiu 33 por cento, por força de um recuo de mais de 35 por cento na cotação. Aqui o abastecimento do mercado não está em causa, porque a produção até aumentou ligeiramente acima dos 4 por cento, mas a rentabilidade das explorações está ameaçada em muitas regiões onde se pratica uma agricultura de subsistência, como é o caso de algumas zonas de montanha onde se colhem as melhores batatas portuguesas.
Em 2009, a produção total do sector agrícola deverá ter sido de 6,8 mil milhões de euros, face a 7 mil milhões em 2008. O rendimento empresarial líquido deverá ter caído 9,4 por cento.